Na Antiguidade, diversos povos veneravam os montes como a morada dos deuses. Os gregos, por exemplo, consideravam o Olimpo como o lugar de habitação de Zeus e outras divindades. O povo de Israel era diferente. O profeta Miquéias não conclama o povo a venerar os montes, ao contrário, ele convoca os montes a testemunhar o poder de Javé: “Ó montanhas, ó alicerces firmes da terra, escutem a acusação que o SENHOR faz contra Israel” (6.2). Na mesma linha, Davi nos indaga no salmo 15: “Quem há de morar em teu santo monte?”
Quem há de morar em teu santo monte?
Na verdade, ninguém é digno do habitar o santo monte de Deus. O pecado nos impede de alcançar tal objetivo. O fato é que este monte é “(in)escalável”. Por essa razão, o Pai fez seu Filho descer o monte santo para habitar entre os que andam pelo vale da sombra da morte e, por sua obra, nos tornar dignos de atingir o cume do monte de Deus.
Apesar da obra de Cristo por nós, preferimos, muitas vezes, escalar outros montes. Julgamos que a felicidade não poderia estar “lá em cima” com Deus ou “ao nosso lado” com Cristo, mas só poderia estar “naquele outro monte ali” mais vistoso.
SINAI: monte da salvação por si mesmo
Por essa razão, muitos pensam encontrar felicidade no “monte Sinai”. Logicamente, não estamos nos referindo ao monte em sim (aquele localizado na península do Sinai), mas como um símbolo (neste caso, o símbolo da lei). Escalar o monte Sinai é tentar atingir a salvação e felicidade seguindo as regras da igreja e lei de Deus. E, ao atingirem o cume de uma suposta perfeição, julgam-se superiores aos “pecados do vale”. Jesus, do alto de um monte, profere: “Felizes aqueles que sabem que são pobres de espírito, porque deles é o Reino do Céu”. A felicidade não está no cume do monte Sinai. TABOR: (Transfiguração)- o monte do aconchego
Outros julgam que felicidade está no monte Tabor, o monte da Transfiguração de Jesus. Naquele episódio, Pedro maravilhado com a presença de Elias e Moisés e com a glória revelada de Jesus. A felicidade era tanta que o discípulo propôs: “Vamos ficar aqui. Construiremos três barracas: para ti, Moisés e Elias.” No entanto, Jesus mostrava que precisava ir a outro monte. Por isso, o Messias sentenciou: “Vamos descer.” Sua missão passava pelos montes de Jerusalém. A felicidade não estava no cume do Tabor.
A Felicidade: do monte GETSÊMANI ao monte CALVÁRIO
Jesus desceu do Tabor para subir, mais tarde, ao monte Getsêmani, local onde seria preso. Do Getsêmani o Messias terminou sua via dolorosa sobre o Calvário, um monte tão feio que recebeu o nome de “Caveira”. Foi sobre este monte que Jesus foi crucificado e morreu pelos pecados de toda a humanidade. Foi o Calvário que testemunhou a sentença de Cristo: “Está tudo consumado!”. Ali, no monte “Caveira”, Jesus concretizou nossa felicidade.
Sobre o monte das OLIVEIRAS: um desafio e uma promessa
Mas, a história de nossa felicidade não termina no Calvário. Após três dias, Jesus ressuscitou e revelou que sua morte redimiu toda a humanidade. Em seu último dia na terra, Jesus levou seus seguidores ao monte das Oliveiras e subiu aos céus. No cume daquele monte, Jesus deixou-nos um desafio e uma promessa. O desafio: “Ide e fazei discípulos de todas as nações”. E a promessa: “Estarei convosco até o fim.” Apesar de já termos a felicidade da salvação conquista sobre o monte Calvário, precisamos participar da Missão de Deus em levar a mensagem da felicidade aos que se encontram na escuridão do vale da morte e no deserto da condenação. Jesus mesmo disse: “Felizes as pessoas que têm misericórdia dos outros, pois Deus terá misericórdia delas. (...) Felizes as pessoas que têm fome e sede de fazer a vontade de Deus, pois ele as deixará completamente satisfeitas” (Mt 5.6-7). Nós, como igreja cristã, não podemos ficar somente na felicidade do Tabor ou na contemplação da cruz vazia do Calvário. Por amor a Deus e ao próximo, necessitamos, muitas vezes, descer do monte para testemunhar o evangelho. A cada culto, Santa Ceia e Estudo Bíblico, reunimo-nos como Igreja, sobre o monte Calvário, e recebemos perdão, vida e salvação das mãos daquele que nos salvou. Mas, nosso desafio é ouvir o que Jesus disse sobre o monte das Oliveiras e “levar Cristo para todos”, acolhendo e integrando a todos.
Promessa de Deus: o monte final da felicidade
Fazemos tudo isso certos das promessas de Cristo. Ele estará conosco até o fim e, no último dia, nos levará, por sua graça e poder, ao cume do monte final, a Nova Jerusalém, lugar onde “os que choram serão consolados” (Mt 5.4). Subiremos o monte da Nova Jerusalém porque Cristo subiu o monte Calvário por nós. Por isso, “fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês” (Mt 5.12a). Mas lembre: nada de vangloriar! Essa recompensa foi conquista pelo Salvador que subiu o Calvário em nosso lugar. Que Deus nos guarde nesta fé. Amém.
Rev. Mário Rafael Yudi Fukue
Resumo da mensagem (4º Domingo após Epifania - 30/01/2011)